domingo, 29 de março de 2009

Entorpecimento medicinal

O pessoal do excelente "Excomungados" já deu conta do assunto, mas venho completar a história. Eis que, passando ao lado da rodoviária de Lafaiete no fim da manhã do dia 28 de março, um sábado, vejo aquela "rodinha" de populares, formada, em grande parte, por funcionários uniformizados da Localix - empresa que cuida da limpeza pública na cidade. É claro que me aproximei para ver o que era.

À primeira vista, o que mais me chamou a atenção foi o microfone do homem que se localizava no centro daquele círculo. Uma engenhoca, feita com um cano de PVC flexível, e enrolada em volta do pescoço, segurava o aparelho na altura da boca do sujeito. Qualquer semelhança com o microfone do patrão não é mera semelhança! Uma aparelhagem de som muito portátil e precária dava conta de ecoar a voz do locutor pelas redondezas.


Pelo que entendi, o dito-cujo começa a fazer uma mágica no meio da rua e usa o número artístico para prender o povo em volta dele, enquanto tenta vender um produto dos mais estranhos. Logo que me aproximei, ele estava demonstrando um tal "coco da índia" - que, aparentemente, não tem nada de diferente.

Mas o milagroso mesmo era o alardeado "óleo do coco da índia", capaz de curar todos (eu disse todos) os males, segundo o vendedor: desde dores de ouvido e pelo corpo, até hemorróidas, pneumonias e tumores. E, enquanto falava sobre as benesses do produto, ele mantinha em suspense a mágica (parece-me que havia feito o relógio de um dos presentes "desaparecer").

Logo após, o que mais me surpreendeu foi a sessão demonstração, quando o sujeito pingou uma gota do tal "óleo do coco da índia" no dedo daqueles que estavam mais à frente e lhes recomendou que passassem o produto no rosto ("para acabar de vez com cravos e espinhas") ou em qualquer lugar do corpo, sobretudo onde houvesse dor, que a cura seria imediata. E, para meu espanto, não é que todos lambuzaram o corpo com o líquido?

Imagina se é um ácido ou produto químico semelhante? Mas isso não preocupou aquela maioria de gente humilde que ali parara para ouvir as palavras do vendedor. Eu, à distância, observava tudo e pensava: "Como é fácil enganar gente simples...". Alguns testemunhavam na hora que haviam passado o óleo sobre alguma parte do corpo "doente" e tinham melhorado instantaneamente.

O "show" continuou com a apresentação de um bicho que "tinha pelos na boca" e outras anomalias surpreendentes. De repente, o homem entreabre uma bolsa e começa a exibir o tal "animal", alertando que ele estava adormecido e, por isso, não representava risco. O tal bicho, no entanto, não passava de um brinquedo de plástico, muito malfeito, parecendo-se com um sapo. E toda a gente em volta do charlatão assistia a tudo imóvel e estupefata!

Entre uma e outra atração, o homem de sotaque indefinido começou a vender os vidrinhos de "óleo do coco da índia". Um rapaz - aparentando estar nitidamente combinado com o vendedor - compra duas embalagens e, no seu encalço, mais uma dezena dos populares adquire o milagroso produto. Enquanto isso, dá-lhe enrolação com a mágica do relógio desaparecido e, para completar o cenário bizarro, uma "mão" que se mexia no chão (aparentemente uma luva com algum aparelho mecânico dentro).

O preço do "óleo" começou em R$ 10 e logo estava em R$ 3. Percebendo que a venda não era boa, o homem começou a anunciar: "Está acabando. Só tenho mais esses. Vamos comprar, pessoal". E, sem parar, as pessoas continuavam comprando um, dois, três de uma só vez. O que era inegável era a boa oratória do vendedor, sua capacidade de argumentação e de prender aquelas pessoas ali por tanto tempo.

Fiquei por perto até ver o fim da mágica. O relógio, de fato, reapareceu e, pelo jeito, o número foi convincente. Mas, quando um suposto irmão do vendedor ia entrar em cena para fazer a tal "mão" andar, resolvi conferir o meu relógio e vi que já era minha hora. Parti, deixando para trás aquelas dezenas de pessoas se entorpecendo com o golpe de mais um aproveitador barato que ganha a vida enganando gente simples país afora.

Um comentário:

Egle disse...

Agora imagine o que é trabalhar com esse indivíduo falando de óleo mágico o dia inteiro! Como eu sofro!

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