À primeira vista, o que mais me chamou a atenção foi o microfone do homem que se localizava no centro daquele círculo. Uma engenhoca, feita com um cano de PVC flexível, e enrolada em volta do pescoço, segurava o aparelho na altura da boca do sujeito. Qualquer semelhança com o microfone do patrão não é mera semelhança! Uma aparelhagem de som muito portátil e precária dava conta de ecoar a voz do locutor pelas redondezas.

Pelo que entendi, o dito-cujo começa a fazer uma mágica no meio da rua e usa o número artístico para prender o povo em volta dele, enquanto tenta vender um produto dos mais estranhos. Logo que me aproximei, ele estava demonstrando um tal "coco da índia" - que, aparentemente, não tem nada de diferente.
Mas o milagroso mesmo era o alardeado "óleo do coco da índia", capaz de curar todos (eu disse todos) os males, segundo o vendedor: desde dores de ouvido e pelo corpo, até hemorróidas, pneumonias e tumores. E, enquanto falava sobre as benesses do produto, ele mantinha em suspense a mágica (parece-me que havia feito o relógio de um dos presentes "desaparecer").
Logo após, o que mais me surpreendeu foi a sessão demonstração, quando o sujeito pingou uma gota do tal "óleo do coco da índia" no dedo daqueles que estavam mais à frente e lhes recomendou que passassem o produto no rosto ("para acabar de vez com cravos e espinhas") ou em qualquer lugar do corpo, sobretudo onde houvesse dor, que a cura seria imediata. E, para meu espanto, não é que todos lambuzaram o corpo com o líquido?
Imagina se é um ácido ou produto químico semelhante? Mas isso não preocupou aquela maioria de gente humilde que ali parara para ouvir as palavras do vendedor. Eu, à distância, observava tudo e pensava: "Como é fácil enganar gente simples...". Alguns testemunhavam na hora que haviam passado o óleo sobre alguma parte do corpo "doente" e tinham melhorado instantaneamente.
O "show" continuou com a apresentação de um bicho que "tinha pelos na boca" e outras anomalias surpreendentes. De repente, o homem entreabre uma bolsa e começa a exibir o tal "animal", alertando que ele estava adormecido e, por isso, não representava risco. O tal bicho, no entanto, não passava de um brinquedo de plástico, muito malfeito, parecendo-se com um sapo. E toda a gente em volta do charlatão assistia a tudo imóvel e estupefata!
Entre uma e outra atração, o homem de sotaque indefinido começou a vender os vidrinhos de "óleo do coco da índia". Um rapaz - aparentando estar nitidamente combinado com o vendedor - compra duas embalagens e, no seu encalço, mais uma dezena dos populares adquire o milagroso produto. Enquanto isso, dá-lhe enrolação com a mágica do relógio desaparecido e, para completar o cenário bizarro, uma "mão" que se mexia no chão (aparentemente uma luva com algum aparelho mecânico dentro).
O preço do "óleo" começou em R$ 10 e logo estava em R$ 3. Percebendo que a venda não era boa, o homem começou a anunciar: "Está acabando. Só tenho mais esses. Vamos comprar, pessoal". E, sem parar, as pessoas continuavam comprando um, dois, três de uma só vez. O que era inegável era a boa oratória do vendedor, sua capacidade de argumentação e de prender aquelas pessoas ali por tanto tempo.
Fiquei por perto até ver o fim da mágica. O relógio, de fato, reapareceu e, pelo jeito, o número foi convincente. Mas, quando um suposto irmão do vendedor ia entrar em cena para fazer a tal "mão" andar, resolvi conferir o meu relógio e vi que já era minha hora. Parti, deixando para trás aquelas dezenas de pessoas se entorpecendo com o golpe de mais um aproveitador barato que ganha a vida enganando gente simples país afora.
Um comentário:
Agora imagine o que é trabalhar com esse indivíduo falando de óleo mágico o dia inteiro! Como eu sofro!
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