segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Frutas de 2 de novembro

Frutas e flores dividiram o espaço das calçadas no entorno do cemitério Nossa Senhora da Conceição, em Conselheiro Lafaiete, no dia de Finados. Banana, laranja, abacaxi e coco foram algumas das opções para os visitantes. O comerciante Cláudio Marvila Benevites, 44, tinha a expectativa de aumentar as vendas de abacaxi. Ele, que costuma estacionar o caminhão de frutas na região da rodoviária, foi para perto do cemitério no dia 2 de novembro. “Em dias normais, vendo entre 150 e 200 abacaxis. Hoje devem sair pelo menos uns 300”, afirmou.

Durante o período em que a reportagem acompanhou o comércio das frutas, muita gente comprou os produtos. João Silvério da Silva, 66 anos, aproveitava para oferecer bananas e laranjas a quem parava para olhar as flores de sua banca. “Trouxe a mercadoria que sobrou da feira, senão vou perdê-la toda”, explicou. O único medo do comerciante era ter que pagar a licença de permanência da Prefeitura de Lafaiete, no valor de R$ 78. “Se eu tiver que desembolsar esse dinheiro, meu lucro vai todo embora”, reclamou.

A mulher do feirante, que o ajudava no balcão improvisado no porta-malas de uma Variant verde, reforçou a queixa. “Mesmo que a gente venda tudo, o nosso lucro não vai chegar nem a R$ 80”, disse Otília Inácia da Silva, 66. Para João Silvério, que levou seis caixas de banana e uma de laranja, a taxa deveria ser proporcional à quantidade de mercadoria oferecida. De acordo com o Setor Municipal de Tributação, os ambulantes que estavam sem o licenciamento para o dia de Finados deveriam ir à prefeitura no dia seguinte e regularizar a situação. Do contrário, o nome da pessoa poderia ir para a dívida ativa do município.

Apesar do risco de ver seu lucro ir quase todo para os cofres municipais, João Silvério insistia em continuar na rua, até que a mercadoria acabasse. É assim que ele faz há cerca de cinco anos, para garantir um reforço no orçamento do mês de novembro. Os arranjos de flor para revenda são comprados em uma floricultura da cidade. “Eu penso que estou ajudando quem precisa comprar uma flor de última hora. É ruim ter que vender num dia em que as pessoas estão tristes. Mas a gente precisa trabalhar, né?”, declarou.

Lado a lado com as flores, a banca do vendedor José Sales Cardoso, 64, teve uma inovação neste ano: água de coco gelada. “Isso é lazer. A pessoa quer sempre beber alguma coisa, matar a sede”, justificou. A banca em que José Sales trabalha, junto com a mulher, Maria das Graças Rodrigues Cardoso, 56, pertence a outra pessoa. Eles ganham comissão pela venda das flores. Mas, como a água de coco foi uma invenção dos dois, o lucro das vendas com a novidade iria todo para o bolso deles. O copo duplo era vendido a R$ 2.

“É a primeira vez que a gente faz isso e está dando certo. A água de coco está tendo boa saída”, comemorou Maria das Graças, que chegou com o marido por volta de 6h à praça em frente ao cemitério. O comércio do qual o casal toma conta já estava com a autorização de funcionamento paga. E a reclamação de que o lucro “ficaria todo na prefeitura” se repetiu. “Essa taxa é muito alta. O prefeito tinha que olhar pelos pobres e acabar com isso”, sugeriu José Sales.

  • Reportagem produzida para a disciplina Jornalismo Econômico, 5º período de Jornalismo - PUC Minas.
  • Foto: Agência Estadoatual/Jornalista Carlos Pacelli.

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