quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Joana, uma brasileira

A auxiliar de serviços gerais Joana D’Arc de Souza Santos, de 43 anos, levou um susto quando a filha mais nova, de 18 anos, apareceu grávida no ano passado. No entanto, Aline Cristina de Souza Santos teve o apoio dos pais para levar a gravidez adiante. E, mais do que isso, eles se dispuseram a sustentar a criança que chegaria ao mundo em poucos meses.

Joana nasceu e mora até hoje em Conselheiro Lafaiete (MG). Ela trabalha há seis anos em um colégio particular da cidade, fazendo limpeza e ajudando a tomar conta das crianças do ensino fundamental. Antes disso, foi babá durante um ano e trabalhou em uma escola estadual durante dois. A vida profissional da auxiliar começou nove anos atrás. Antes disso, sua dedicação era exclusiva ao lar.

Em 2008, Joana resolveu voltar à escola, pois só estudou até a quarta série. Mas o retorno à sala de aula foi interrompido pela gestação da filha. Na época em que Aline engravidou, seu pai, o pedreiro refratário Eli Rodrigues dos Santos, estava trabalhando fora da cidade. Há cerca de um ano e meio, ele é contratado para “paradas” de empresas siderúrgicas e metalúrgicas, reformando e construindo altos-fornos. Já passou por uma firma do Rio Grande do Sul e outra de Goiás, depois foi para Ipatinga (MG) e hoje está em Barra Mansa (RJ).

Apesar da saudade, a distância da família foi benéfica: Eli conseguiu aumentar consideravelmente sua renda, nessas empreitadas país afora. O salário fixo dá mais estabilidade do que os pagamentos pelos “bicos” que ele fazia antes. “Acho que hoje o meu marido deve ganhar mais ou menos uns R$ 1.600. Não sei o valor exato, porque nem me preocupo com isso. Essa história de ficar olhando contracheque... Para mim, ele colocando as coisas dentro de casa, é o que importa”, diz Joana.

A renda de Eli, somada ao salário mínimo de Joana – “que, com os descontos, cai para R$ 400” –, mantém a casa. Depois que o bebê de Aline nasceu, Joana – que já tinha largado o Ensino de Jovens e Adultos (EJA) – passou a cuidar do neto. A filha – que não se casou com o namorado, da mesma idade – faz o curso de mecânica em uma escola técnica municipal. A outra filha, Karina Patrícia de Souza, de 23 anos, estuda em uma universidade particular na cidade e trabalha em um projeto assistencial da instituição, o que lhe dá direito a um desconto na mensalidade do curso de Normal Superior.

Joana não se queixa da vida. “Sempre criei as minhas filhas dentro do que eu podia dar. Nunca mudava muito meus hábitos quando o salário aumentava. Hoje a gente vive bem. Não falta nada dentro de casa, graças a Deus”, comenta. Em outras épocas, não foi assim. Pouco antes de Aline nascer, o marido de Joana perdeu o emprego. Foi um sufoco. “No final do governo do Fernando Henrique [Cardoso], ele ficou desempregado de novo. Depois que o Lula entrou, o emprego melhorou para todo mundo”, observa a auxiliar de serviços gerais, acrescentando que a família conseguiu superar esses momentos difíceis com o salário dela e com a ajuda dos parentes.

Os laços familiares sempre tiveram muita importância na história de Joana. A lafaietense perdeu os pais muito cedo, levados pelo vício da bebida. Casou-se e foi morar com a sogra, que virou uma segunda mãe para ela. Algum tempo depois, se mudou para sua casa própria, onde está até hoje. A filha mais velha dela, na verdade, é uma sobrinha. A menina foi adotada quando ainda estava com sete meses, pois perdeu a mãe. O pai, irmão de Joana, também é alcoólatra e hoje vive em cima de uma cama, sob os cuidados de uma outra irmã.

Sonhos com luxo e riqueza passam longe da cabeça de Joana. O que ela quer mesmo é ver as filhas bem encaminhadas e a família com saúde, além de ter um dinheiro para passear e viajar. No ano passado, ela realizou alguns de seus sonhos. O período de um mês e dez dias que o marido passou no Rio Grande do Sul foi suficiente para ele conseguir comprar o piso da cozinha da casa e dar à mulher o armário de cozinha que ela desejou por mais de 25 anos. Eli também presenteou as filhas com um computador.

“Acho que só a saúde ainda está muito ruim no país. A gente sofre muito nas filas e os postos estão sem médico. Apesar disso, a minha filha foi muito bem tratada no parto dela”, opina Joana, que paga um plano médico básico, para ajudar nas horas de emergência. Essa brasileira, que já conseguiu guardar dinheiro na poupança, mas hoje não possui mais essa reserva, só lamenta hoje a distância do marido. Os encontros ocorrem apenas uma vez por mês. “Mas sei que é melhor ele estar longe, mas trabalhando, do que estar aqui desempregado”, conclui.

  • Reportagem produzida para a disciplina Jornalismo Econômico, 5º período de Jornalismo - PUC Minas.

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